Memória
Ele me chamava Marta [nome de sua filha caçula]
e gostava de me contar potocas
potoquinhas, seguidas de risadas
As mãos trêmulas pelo parkinson me acenavam
bailarinas
E a voz assoprada, vinda de um olhar já caído
dizia:
_"venha cá, Marta, que vou te contar uma potoquinha"
E lá ia eu, me assentava ao seu lado e escutava
talvez apressada [criança tem sempre pressa de estar em outro lugar]
Não me lembro do conteúdo das potocas
mas sei bem dos afetos que elas plantaram em mim
Hoje são saudade
memória vaga
vontade de voltar no tempo e sentar embaixo da figueirinha
[onde dormiam os morcegos, feito flores negras em árvore cativa]
pra escutar atentamente as histórias
Berto folheiro
era assim conhecido
não pelas folhas verdes da figueira, mas pelas de chapa
[inoxidáveis ou não]
Mas, para mim, apenas "o vô", de mãos habilidosas [e muitos amigos]
que gostava de prosa na varanda, leite com manga, café com formigas
e do frescor e dos frutos da árvore dos morcegos
E que, entre uma volta e outra na manivela que ateava fogo na forja
que o ajudava a dar malemolência ao ferro
moldou em mim suas raízes
E eu nem notei.
_Aline, 09/04/2015.
Que lindo Aline! Adorei me lembrar também. a memória tem realmente o poder de nos fazer reviver o passado. Literalmente. Fiquei emocionada
ResponderExcluirObrigada, Ana!
ResponderExcluirEu também me emocionei ao escrever. :)
Emocionante. *-*
ResponderExcluirCurti demais tbm!
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