A outra barata
havia uma barata (abusada) tomando banho comigo
escondia-se atrás do puxador de água
mas moveu-se, meio afogada, quando tirei-o do lugar
não estava morta
nem viva o suficiente para sair correndo
talvez estivesse um pouco atolada na água
_que não era suficiente para um nado
ou talvez tenha simplesmente fingido estar meio morta
_na expectativa de um momento menos arriscado para fugir
não sei, não sei...
por via das dúvidas, matei-a
com aerossol
mas agora hesito na remoção do corpo
mal consigo entrar no banheiro
fito-a da porta. meu corpo desorganiza-se
ante ao seu corpo morto
recuo
tento convencer-me de que é apenas uma barata
morta
inofensiva
mas sua vulgaridade me repele
as pernas bambeiam
o estômago contorce-se
a cabeça, que já doía, lateja
como pode uma barata, morta, ter tanta força?
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Fotografia: Ruth Bernhard |
_Aline, 01/09/2016.
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