Das janelas que dão para o lado de dentro


[Este texto eu escrevi em 2012, ainda sob forte impacto do meu encontro com Luiz Fernando Carvalho e Raduan Nassar, em um evento, em São Paulo, sobre a obra Lavoura Arcaica, livro de Raduan que germinou e gerou outra belíssima obra, o fidelíssimo filme, de Luiz Fernando. Como eu já disse, fui profundamente tocada por estas duas Criaturas e suas criações. E por isso, não poderia deixar de reafirmar aqui, nesta minha nova lavoura, a gratidão que sinto por ter podido viver a emoção deste encontro que agora germina na minha terra!]


- para Luiz Fernando Carvalho

Hoje eu conheci um homem que constrói imagens em busca de janelas
Ele me comoveu
Era um moço alto
, elegante
Chegou como chegam as pessoas grandes do lado de dentro
Sem estardalhaço

Sentou-se
Acompanhado de outro gigante discreto
Ambos tinham olhos que abriam portas para arcaicas lavouras
- e para as distâncias que o amor pode abarcar -

Mas o homem que busca janelas me comoveu
Sim. Eu já disse

O que eu não disse é que a primeira delicadeza a me comover nele
Não vinha da mitopoese dos seus relatos
Mas das meias verdes que escapavam de suas botas

Aquelas meias provocaram meu imaginário
Era a segunda vez que um homem de terno me desviava a atenção para o improvável
: a cor de suas meias

O primeiro foi Ariano Suassuna
que foi receber homenagem - lá na terra de el Rei –
e levou sua poesia nos pés
, vestida de vermelho

Agora este
que veio para homenagear
e trouxe também nos pés
a lavoura que começou a cultivar quando ainda via pela janela dos olhos de sua mãe

Hoje eu conheci um homem que constrói imagens
Usa meias verdes
É amigo do homem de meias vermelhas
E abre janelas que dão para o lado de dentro.



Cena do filme Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho.














_Aline, SP, 29/11/2012.


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